terça-feira, 31 de outubro de 2017

Quem tiver ouvidos...

Caiu-me ao colo, novamente, uma frase de Jesus, lendo um belíssimo texto de Rubem Alves: "Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça". Será que Jesus fala de ouvidos de modo literal, ou ele está falando de antenas? Lembrei-me da Oração, cantada por Ney Matogrosso. "Peço aos céus para me proteger E eu não hei de ceder Ao vazio desses dias iguais Mal em mim nunca há de fincar Mel em mim nunca há de findar Olhos nus e atento aos sinais Faço fé pra poder ver A vida há de ser sempre mais Peço aos céus para me defender De engolir o sofrer Contato vir a ter jamais Com o invisível que paira no ar Dos que querem ver sangrar Ilumine, e que sigam em paz Faço fé pra poder ver A vida há de ser sempre mais Se acaso a peste A tempestade trouxer Que ao se aproximar de mim, suma Que no seu lugar Nunca demore a brotar A celeste semente do amor Envolto por espirais Num manto de azul-lilás Conserve meus bens vitais e calor Cuide para crescer E enfim florescer a flor de cristal Sobre nossos quintais!"

Red Crearte e os 500 anos

Temos disponível este livro de recursos litúrgicos e musicais, criado coletiva e ecumenicamente em São Leopoldo em 2016.

Quarteto Pé no Chão

O Quarteto Pé no Chão tem uma história de longa data. Nasceu da ideia de três capixabas e um paranaense que estudavam teologia e música nas Faculdades EST no início dos anos de 1990. Hoje, com outra formação, acolheu a essência de manter três capixabas e um paranaense. Adriana Lahass é aluna de música na Fames, em Vitória-ES. Tayná Buss Dessabato é de Itaguaçu-ES e estuda arquitetura em Colatina. Douglas Kalke é professor da Associação Diacônica Luterana, ADL, em Afonso Cláudio. Louis é atualmente regente dos Coros Unicanto, Sinfônico Comunitário e Instrumental Feevale e mestrando de teologia nas Faculdades EST. Em janeiro passado, abrimos as celebrações dos 500 anos da Reforma Protestante no Sínodo de Roskilde, na Dinamarca, a convite de Peter e Betty Arent. Somamos forças e cantamos em português e dinamarquês. A Reforma precisa de música. Estamos aprendendo como fazer esta música soar.

500 anos de Reforma Protestante

Algumas palavras para o cotidiano deste dia. As redes sociais e suas páginas virtuais aceitam tudo. Tudo que pode ser registrado em palavras, imagens, áudios. Talvez já tenham inventado o cheiro virtual. A curiosidade é que, o virtual só existe porque existe o real. O virtual é um segundo momento. Nunca é o presente. Mesmo uma transmissão ao vivo demora milésimos de segundos para aparecer. E mesmo assim, quando vamos ver o post, já passou. Assim, quero dar minha contribuição para as reflexões dos 500 anos da Reforma Protestante. Lutero já passou. Bem sabemos que as mulheres e homens que há 500 anos atrás agarraram a bandeira da Reforma, do Protestantismo, não tinham apenas o elemento da teologia nas mãos. Eles tinham seus contextos, seus problemas cotidianos, suas estruturas de poder. Havia muita pobreza, muita desigualdade, pouca instrução para o povo pobre. E muito do que se fazia tinha relação com a expansão de seus territórios. Em outras palavras, se buscava mais poder. Será que quando hoje nossas igrejas falam dos 4 solas (vi um post com mais um que eu desconhecia...) elas também falam de seus contextos ou falam de um Deus macho de barba branca que vive nas nuvens? Qual é a Palavra de Deus que pregamos hoje? Falamos da realidade das pessoas? Seguimos com nossas discussões teológicas acima das necessidades das pessoas que batem em nossas portas pedindo algo para comer? Se nossa reflexão e práxis do dia 31 de outubro de 2017, ou seja, hoje, não nascer da experiência do dia a dia das pessoas, esqueçam essas comemorações. Porque hoje, segundo o senso da violência do Brasil, continuarão morrendo 7 pessoas por hora em nosso país. E a violência contra as mulheres? E as reformas trabalhistas, oprimindo o povo pobre deste país, que estão nas mãos de ditos deputados evangélicos? E nosso meio ambiente? E as crianças? Quando aprenderemos a ler o evangelho de Mateus 25 com as mãos? Sim, são muitas perguntas, e nenhuma resposta. Mas esta é a ambiguidade da vida. Se sigo num estado de apatia (que é o contrário de compaixão) em relação à vida sofrida das pessoas que estão à minha volta, de nada me adianta bradar nas redes sociais os 4 solas. Pra quê? Para ir ao céu? Cuidado. Quando damos mais valor àquilo que nos interessa, caímos na armadilha das indulgências e obras. Acolher a pessoa estrangeira, dar pão a quem tem fome, defender a justiça de gênero, cantar e celebrar uma nova canção. Isto não é obra, isto é evangelho. Que Deus, em sua graça, siga nos empurrando para a vida e afinando nossas antenas para compreender a boa nova.